Indígenas mulheres em retomada: (re)existências e trajetórias silenciadas nas lutas por direitos e territórios
Resumo
RESUMO: Na historiografia, apesar de avanços, ainda prevalece uma certa obscuridade a respeito da importância dos papéis desempenhados pelas indígenas mulheres em seus Territórios. Quando não hipersexualizadas, passam a ser caracterizadas como submissas e alheias às conjunturas vividas pelo seu povo. Exceto aquelas que ocupam cargos de relevância em sua comunidade ou em organizações indígenas, chamadas de guerreiras. Especificamente, sobre os períodos de retomadas, são frequentemente silenciadas. Os pesquisadores das ciências humanas foram indiferentes às ações desenvolvidas pelas originárias em defesa dos seus Territórios. Este artigo visa contribuir com as análises acerca das atividades desempenhadas pelas indígenas mulheres em suas comunidades, não restrita aos cargos políticos. Para isso, além da história oral, serão utilizados como fontes históricas os livros “Mulheres Indígenas da Tradição”, “Pelas Mulheres Indígenas” e “Guerreiras: A força da mulher indígena”. Por ser escrito ou ter o envolvimento direto das originárias nestes projetos, é possível ouvi-las nas obras citadas, facilitando as análises. Portanto, ao contrapelo de uma abordagem colonial e patriarcal, que inviabilizam as indígenas mulheres duplamente, devido a sua condição étnica e de gênero, as análises propostas pretendem favorecer uma maior visibilidade em torno das lutas, experiências e estratégias das originárias, sobretudo no Nordeste.
PALAVRAS-CHAVE: SILENCIAMENTOS; ORIGINÁRIAS; DEMARCAÇÃO TERRITORIAL.
Referências
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