GESTOS DE CARINHO: CORPO E AFETO NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

Resumo

Este trabalho tem o propósito de analisar como se constituem gestos de carinho, a partir de dois episódios de interação de educadoras e crianças pequenas em um berçário. As análises estão ancoradas nas proposições de Vigotski e de Bakhtin, segundo as quais, é no contexto da interlocução que se produzem as significações de palavras, movimentos, ações e posturas da criança e do adulto. Considerando que a relação dialógica entre bebês e adultos dá-se fundamentalmente por intermédio do corpo e é sempre marcada por acentos afetivo-volitivos que compõem as significações que nela se produzem, procuramos discutir, a partir das análises, o lugar do corpo e do afeto no desenvolvimento cultural da criança pequena. Os episódios foram recortados a partir de um banco de dados constituído por sessões de filmagem realizadas em um berçário de uma creche universitária, onde eram atendidas crianças de 9 a 18 meses, tendo sido mantido um registro contínuo da dinâmica de sua rotina, com foco nas interações adultos-crianças. Nossas análises mostram que, no contexto de práticas de cuidado e atenção realizadas pelas educadoras, as crianças incorporam práticas culturais de controle do próprio corpo, de seus gestos e manifestações de afeto. Nesse processo, longe de ser um sujeito passivo modelado pelo meio, a criança internaliza as significações que se produzem na atividade interpessoal da qual participa ativamente com suas ações, gestos e posturas. Ao final do texto, apontamos algumas implicações dessas análises para a discussão da questão do cuidado como dimensão fundamental da atividade docente na educação infantil.